FÁLACIAS



Falácias são falhas de raciocínio que tiram o fundamento da lógica de um argumento. Elas podem ser argumentos ilegítimos ou pontos irrelevantes, frequentemente identificados por não possuírem evidências que apoiem sua afirmação. Identificar falácias na argumentação de alguém ou evitá-las é crucial em qualquer conversa em que possa se encontrar, especialmente nas quais iremos elaborar juntos. Quanto mais se envolver em debates e entender como certas falácias funcionam, mais experiente você se tornará em identificá-las. Isso é essencial em nosso trabalho como ativistas pelos Direitos dos Animais

1. "Apelo à Natureza"

É o raciocínio de que se algo é natural, ou existe na natureza, então é inerentemente bom, positivo, aceitável. E o que não-natural é ruim.

Exemplo: "Isso é natural, os animais comem outros animais, você dirá a um leão para se tornar vegano? É a cadeia alimentar. Nós somos onívoros. Olhe para nossos dentes caninos."

A razão pela qual o argumento do apelo à natureza é uma falácia é simples: só porque algo acontece na natureza não significa necessariamente que seja bom. Leões, como outros animais, às vezes também matam e comem seus próprios filhotes; na verdade, estima-se que um quarto dos filhotes que morrem no primeiro ano de vida são vítimas de infanticídio (No entanto, nenhum humano escaparia impune de matar seu próprio filho apelando à natureza e alegando como os leões também o fazem. É por isso que apelar à natureza ao defender uma postura ou uma ação é considerado uma falácia lógica.

Exemplo de como um vegano usaria esse argumento falacioso em uma conversa:

“Muitos animais terrestres são herbívoros, logo os humanos também deveriam ser herbívoros."

Neste exemplo, o vegano está apelando à natureza e argumentando que, como comer dietas à base de plantas é natural para alguns animais, então nós também devemos fazer isso.

2. "Apelo à Tradição"

Falácia em que o argumentador afirma que algo é aceitável simplesmente porque já foi feito há muito tempo.

Exemplo: "Os humanos comem carne há milhares de anos."

Apelo à tradição é uma falácia que não é apenas perigosa para outros animais, mas também para nós. Consiste em defender uma ação ou crença simplesmente porque é assim há um certo tempo. Em outras palavras, se tornou parte da tradição.

A forma geral deste tipo de argumento: "Fazemos há gerações. Portanto, devemos continuar fazendo".

Nenhuma ação pode ser aceita como moral simplesmente por ter sido uma preferência histórica. As tradições são freqüentemente passadas de uma geração à outra sem serem questionadas se são morais, corretas ou boas. Na verdade, o único raciocínio usado é “porque sempre foi assim”. Este é o argumento exato usado contra o veganismo quando se diz: "Os humanos comem animais há milhares de anos!" É verdade, nós TEMOS matado e comido animais há milhares de anos, mas isso é realmente uma justificativa? Vamos testar o quão logicamente consistente é esse argumento. Os humanos também se matam, roubam, escravizam, torturam etc. há milhares de anos. Isso significa que devamos continuar fazendo isso? Significa que isso seja justificável? Claro que não. Ninguém em sã consciência jamais alegaria que esses atos são justificados apenas porque os praticamos há milhares de anos. Da mesma forma, não podemos usar o apelo à tradição como justificativa para nossa exploração de outros animais. Não é um motivo; é, na verdade, uma ausência de motivo.

Exemplo de como um vegano usaria esse argumento falacioso em uma conversa:

“Cientistas encontraram dietas à base de plantas na análise de Neandertais no norte da Espanha.”

Só porque encontramos uma população que sobreviveu com dietas à base de plantas há milhares de anos, não significa que devemos usar como um argumento para fazer alguém se tornar vegano. Apelar à tradição é um argumento falacioso.

3. "Apelo à População"

Apelo à população também conhecido como apelo à multidão, ou apelo à maioria.

Exemplo: "A maioria das pessoas come carne. A maioria das pessoas concordaria comigo que não há problema em criar animais para alimentação. O veganismo é uma besteira. Quase ninguém se importa."

Consiste em tentar mudar ou persuadir alguém a pensar ou agir de determinada forma simplesmente porque um grande grupo de pessoas, ou a maioria, pensa ou age dessa forma. A forma geral deste tipo de argumento: Muitas pessoas acreditam em X. Portanto, X deve ser verdadeiro. É basicamente argumentar que algo está certo apenas porque a maioria concorda com isso.

A maioria da população humana, nos Estados Unidos, por exemplo, era pró-escravidão em alguma época do passado. No entanto, agora que mudamos, todos concordamos e confirmamos que só porque a maioria da população decidiu que era a coisa certa a se fazer, não significa necessariamente que a ação foi boa ou correta. Semelhante ao exemplo da falácia anterior, não estamos de forma alguma comparando as vítimas da escravidão às vítimas de opressão, estamos apenas comparando a mentalidade dos opressores e estendendo a falácia lógica para testar a consistência (ou inconsistência, neste caso).

Exemplo de como um vegano usaria esse argumento falacioso em uma conversa:

“Tantas pessoas estão se tornando veganas hoje em dia, você também deve se tornar!”

Apelar para o que um grande número de pessoas está fazendo é um argumento falacioso para tentar tornar alguém vegano.

4. "Apelo à Legalidade"

Argumentar que algo é moralmente aceitável apenas porque é legal (legalizado).

Semelhante ao Apelo à população, a falácia do apelo à lei consiste em alegar que uma ação ou pensamento específico é verdadeiro porque a lei o permite.

Exemplo: "Não é ilegal comer carne. Você não pode dizer coisas como estupro, escravidão e assassinato são tão ruins quanto a pecuária. Essas coisas são ilegais."

A forma geral deste tipo de argumento: X é ilegal. Portanto é imoral. Y é legal. Portanto é moral.

Não há dúvida de que as leis são necessárias para regular a sociedade atual, encontrar um equilíbrio e organização de como as coisas funcionam. Contudo, apelar à lei sem oferecer qualquer tipo de argumento ou prova é uma falácia lógica facilmente refutada. Se um não-vegano afirma que “comer animais é moral porque é legal”, a questão aqui é que consideramos a legalidade um indicador não confiável de moralidade.

Como todos sabemos, inúmeras vezes na história (e mesmo nos dias de hoje), a lei permitiu muitas coisas injustas e imorais, e proibiu muitas coisas morais e corretas. Só porque a escravidão era legal, não significa que fosse moral. Só porque a lei não permitia que as mulheres votassem em certos países, não significa que o direito das mulheres de votar seja imoral. É por essa razão precisa que a desobediência civil, embora ilegal, pode ser considerada um ato moral (e tem ajudado com sucesso a moldar a sociedade ao longo da história). O que antes era considerado "imoral" pode facilmente ser considerado "moral" depois de um certo tempo e vice-versa. Nós devemos ser cuidadosos e nunca presumir que as leis são inerentemente boas ou más sem um pensamento justo e crítico.

Exemplo de como um vegano usaria esse argumento falacioso em uma conversa: “Em algumas partes da Índia, é ilegal matar vacas!” Bom, em outras partes, não é. Só porque alguma lei em algum lugar exija algo, não significa que você possa apelar a essa lei para tentar provar algo. Isso pode ser usado contra você da mesma maneira.

5. "Falácia Anedótica"

Usar anedotas para formar uma conclusão em oposição a uma ciência sólida.

Exemplo: "Meu amigo se tornou vegano e ficou muito doente. O veganismo não é saudável."

Não há como provar que a dieta vegana é ruim com base em evidências anedóticas, são necessários meta analises, estudos revisados ​​por pares etc. Qualquer pessoa com conhecimento básico em ciência nutricional sabe que não podemos confiar em anedotas para chegar a conclusões solidas sobre ciência nutricional. Existem muitos casos de não-veganos que mataram seus filhos com uma dita não-vegana.

O espaço de 'nutrição e bem-estar' da mídia social está repleto de evidências anedóticas sendo usadas para promover certas dietas, suplementos ou terapias. Embora as experiências individuais sejam absolutamente válidas, elas não devem ser usadas para promover uma determinada terapia sem dados sobre eficácia e segurança. Sem esses dados, é impossível saber se a terapia dada foi eficaz além do efeito placebo. Mais importante, só porque uma única pessoa, ou um punhado de pessoas, não notou efeitos adversos, isso não significa que é garantido que seja seguro e que outros indivíduos não experimentarão efeitos colaterais indesejados.


Deixe-me dar um exemplo óbvio para ilustrar esse ponto: Fredie Blom, era considerado o 'homem mais velho do mundo', morreu aos 116 anos. Ele fumava diariamente! Se isso tivesse ocorrido há 70 anos, poderia usar este exemplo para afirmar que fumar é obviamente seguro e saudável. Afinal, o homem mais velho do mundo fez isso! Claro, hoje sabemos melhor porque temos dados sobre o tema. Pense em como seria irresponsável usar esse exemplo para promover o tabagismo naquela época.


A hierarquia de evidências é uma forma de classificar os tipos de evidências, do mais fraco ao mais forte . A parte inferior da hierarquia são anedotas , ou histórias individuais. Essas são as formas mais fracas de evidência porque são apenas a experiência de uma pessoa e não refletem necessariamente uma tendência maior. O próximo passo são os estudos de caso, que são histórias sobre um grupo de pessoas . Estes são mais fortes do que anedotas porque envolvem mais de uma pessoa, mas ainda são vulneráveis ​​ao viés de seleção. O próximo passo são os estudos observacionais, que analisam as tendências em uma população. Estes são mais fortes do que os estudos de caso porque não são vulneráveis ​​ao viés de seleção, mas podem ser vulneráveis ​​a fatores de confusão. O próximo passo são os estudos experimentais, que são estudos nos quais as pessoas são aleatoriamente designadas para diferentes grupos. Essas são as formas mais fortes de evidência porque não são vulneráveis ​​a fatores de confusão.

6. "Apelo às Consequências"

Afirmar que uma posição é falsa apenas porque se acredita que o curso de ação que se segue a partir desse argumento pode levar a consequências indesejáveis.

Exemplo: "Pense em todas as pessoas que perderiam o emprego na indústria agrícola se você seguisse seu caminho e todos se tornassem veganos."


Recurso ao dicionário: usar definições de dicionário (que estão em constante mudança) para argumentar a invalidade de uma declaração, ao invés de usar a razão.

Exemplo: "A definição de 'assassinato' é o ato de um ser humano matando outro ser humano. E 'alguém' se refere a humanos, não a animais. Está escrito no dicionário."


6. "Apelo à Emoção"

Quando um argumento é feito devido à manipulação de emoções, ao invés do uso de um raciocínio válido.

Exemplo: "Minha avó está morrendo. Tenho muitas coisas em que pensar no momento. Mesmo assim, você quer sentar aqui e me criticar por abandonar o veganismo como se essa fosse minha preocupação número 1 agora. Tenha um pouco de simpatia."


7. "Apelo à Autoridade"

Quando uma afirmação é considerada verdadeira devido à posição ou autoridade de uma pessoa que a afirma, mesmo que essa pessoa não esteja em uma posição mais confiável para afirmá-la do que a pessoa com quem está argumentando.

Exemplo: "Meu médico me disse que eu preciso comer carne para obter ferro. Acho que vou ouvir um médico em vez de um vegano"


Apelo ao medo: um tipo de argumento argumentado com base em alarmismo em oposição a um raciocínio válido.

Exemplo: "Se você se tornar vegano, seu cabelo vai cair. E seus ossos vão quebrar. E você ficará muito pálido e ficará muito doente. E se sentirá muito fraco. Você terá muitas deficiências nutricionais."


Apelo ao prazer: argumentar que algo é moralmente justificável simplesmente porque é bom para o argumentador.

Exemplo: "Sim, mas a carne tem um gosto bom."


Apelo à pobreza: apoiar uma conclusão porque um argumentador dela é financeiramente pobre.

Exemplo: "Meu amigo mora em um deserto de comida e diz que é muito difícil ser vegano. É fácil para você dizer que o veganismo é fácil quando você é tão privilegiado. Vou confiar em meu amigo em vez de seu traseiro branco privilegiado."


Apelo ao ridículo: um argumento é feito apresentando o argumento do oponente de uma forma que o faz parecer ridículo.

Exemplo: "Sim, deixe-me adivinhar, então você só quer que subsistamos de ar. Devíamos todos nos tornar respiratórios. Dessa forma, seus veganos realizarão seu sonho e não faremos mal a ninguém. ROFL."


Apelo à riqueza: o oposto de apelo à pobreza e, em vez disso, apóia a conclusão porque se está em uma posição financeiramente rica.

Exemplo: "Vocês veganos são apenas um bando de vagabundos falidos. Pare de protestar e vá e consiga um emprego como o resto da sociedade carnívora. Sua causa é besteira."


Falácia de associação: argumentar que, como duas coisas compartilham algo em comum, elas devem ser iguais.

Exemplo: "Um vegano foi rude comigo uma vez. Eu odeio veganos e não irei vegano."


Escolha da cereja (cherry picking): apontar pequenos casos de dados que apóiam um argumento, enquanto ignora as vastas faixas de dados que o contradizem.

Exemplo: "Forçar seus filhos a uma dieta vegana é abuso infantil. Você não viu aquela história recentemente sobre o casal que foi preso porque alimentou seu bebê com uma dieta vegana e o bebê morreu de desnutrição?"


Argumento descritivo: simplesmente descrever algo pelo que é considerado ser, em oposição a abordar por que é moralmente errado fazer algo.

Exemplo: "Por que comer porcos, mas não cachorros? Simples. Um cachorro é um animal de estimação. Um porco é comida. Vocês, veganos, não entendem isso?"


Falácia existencial: argumentar que é certo fazer algo com alguém simplesmente porque essa pessoa não teria nascido se não tivesse sido trazida ao mundo para esse propósito.

Exemplo: "Animais de fazenda são criados para esse propósito. Então você prefere que simplesmente não os cultivemos e eles não existam? Nós lhes damos vida."


Falácia da privação relativa (ou 'apelo para outros problemas'): descartar o argumento apenas porque outras coisas estão acontecendo no mundo, como se isso fosse relevante.

Exemplo: "Há pessoas morrendo na Síria e você quer ficar aqui dizendo às pessoas para serem veganas? Existem outras questões no mundo em que precisamos nos concentrar agora."


Cenário hipotético: cenários propostos que nunca vão realmente acontecer, como forma de tentar refutar o argumento.

Exemplo: "E se você estivesse preso em uma ilha deserta com apenas um porco e nada mais para comer?"


Falácia da conclusão irrelevante: um argumento que pode ser válido por si só, mas não aborda a questão em questão.

Exemplo: "A carne contém todos os aminoácidos essenciais."


O poder corrige : afirmar que algo é moralmente aceitável porque se está em uma posição de poder sobre a vítima.

Exemplo: "Os humanos estão no topo da cadeia alimentar. Nós evoluímos para ser a espécie dominante. Portanto, podemos escolher comer o que quisermos."


Movendo os postes da meta: argumento em que a evidência apresentada em resposta a uma reivindicação específica é rejeitada e alguma outra evidência (muitas vezes maior) é exigida.

Exemplo: "Ok, então você me mostrou uma lista de fisiculturistas veganos como eu perguntei. Mas agora me mostre uma lista de fisiculturistas veganos que são veganos desde o nascimento!"


Falácia do Nirvana: uma falácia em que as soluções para os problemas são rejeitadas porque não são perfeitas.

Exemplo: "Você nunca fará com que todos se tornem veganos. Os animais ainda vão morrer, independentemente."


Reificação: uma abstração (crença abstrata ou construção hipotética) é tratada como se fosse uma coisa real e concreta, e é diretamente observável, em oposição a meras palavras / abstrações.

Exemplo: "É a cadeia alimentar." / "É o círculo da vida."


Falácia do arenque vermelho (pista falsa): tentar desviar o argumento do tópico real que está sendo discutido para que seja mais fácil argumentar.

Exemplo: "Existem pessoas na África que não podem se tornar veganas. E as pessoas no Pólo Norte? Nem todas as pessoas podem ser veganas."


Argumentação com espingarda: o argumentador oferece um número tão grande de argumentos para uma posição que o oponente não pode responder a todos eles em um período de tempo decente.

Exemplo: "O veganismo é ridículo. Você vai impedir um leão de comer uma gazela? E quanto às plantas? Estudos científicos mostram que elas sentem dor. E nós somos onívoros. Nossos ancestrais comiam carne. A carne é uma fonte confiável de B12. É completamente natural para comê-lo. Estamos no topo da cadeia alimentar. É o círculo da vida. A vida devora a vida. Animais serão mortos, seja você um vegano ou não. Você é como fanáticos religiosos. O veganismo não é possível para todos. Meu amigo ficou muito doente quando tentou se tornar vegano. E se você ama tanto os animais, por que está comendo toda a comida deles? E se você estivesse preso em uma ilha deserta ? Blá blá blá blá..."


Ladeira escorregadia: presumindo que apenas porque uma mudança é feita, uma cadeia extrema de eventos se seguirá, ignorando completamente qualquer meio-termo.

Exemplo: "Se pararmos de criar animais, deixaremos de ser a espécie dominante e eles acabarão nos comendo."


Falácia do espantalho: um argumento baseado na deturpação da posição de um oponente.

Exemplo: "Hah, então você quer transformar leões e tigres e todas as outras criaturas que comem carne em veganos. É por isso que o veganismo é simplesmente absurdo."


Clichê terminador de pensamento: usar palavras ou frases que desencorajam o pensamento crítico e a discussão significativa sobre um determinado assunto, a fim de encerrar a discussão e seguir em frente (como forma de combater a dissonância cognitiva).

Exemplo: "Tudo bem, você não quer comer carne, mas outros sim. Escolha pessoal. Vamos todos viver e deixar viver."


Falácia tu quoque (você também) ou apelo à hipocrisia: afirmar que um argumento se desfaz simplesmente porque o argumentador não consegue ou é incapaz de viver em completa coerência com essa posição.

Exemplo: "Ferir animais é errado? Bem, você pisa em formigas toda vez que sai de casa. E você mora em uma casa? Usa eletricidade? Dirige um carro?"


Ad hominem: atacar o argumentador em vez do argumento.

Exemplo: "Você é um idiota vegano hipócrita. Vá se foder e me deixe comer o que eu quiser."


Falsa dicotomia: Sugerir duas opções, quando na realidade existem outras opções que não foram consideradas.